Despertar consciência ambiental com contos infantis

Projecto «Contar a natureza» promovido pela Companhia Filandorra

2009-05-11
Educação ambiental e ecológica das crianças e jovens potenciada com mensagens simbólicas

O projecto «Contar com a Natureza» é uma iniciativa de Educação Ambiental através de contos infantis - apresentados em vários locais, mediante actividades lúdicas e cénicas a cargo de actores /contadores de histórias do Serviço Educativo da Filandorra -, num processo de interacção com as crianças e jovens foi apresentado hoje na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em conferência de imprensa promovida pela Companhia Filandorra – Teatro do Nordeste e pelo Observatório da Literatura Infantil (OBLIJ).

O Projecto, fruto de um aproveitamento lúdico e cénico da obra ecológica de Alexandre Parafita para a infância, propõe-se ser uma alavanca criativa que desperte nas futuras gerações sentimentos de respeito e de defesa do meio ambiente e património ecológico.

A ideia nasceu de uma necessidade de despertar, “de uma forma lúdica e séria”, as novas gerações para o meio ambiente. A sociedade é diariamente invadida por notícias sobre catástrofes ambientais, poluição atmosférica, aquecimento global, destruição da camada de ozono, destruição de espécies animais e vegetais e dos seus habitats, desperdício e poluição da água.

Tais notícias, pelos seus enfoques ou ângulos de abordagem, apresentam, geralmente, este panorama como fenómeno civilizacional inevitável. Esta “cultura” da inevitabilidade é especialmente preocupante no contexto formativo das crianças, futuros agentes da mudança, junto de quem importa, cada vez mais, sugerir e estimular reflexões e comportamentos que contribuam para que o planeta seja sempre um espaço seguro e saudável. Daí a importância das atitudes individuais positivas no processo de preservação e valorização da Natureza.

Mentalidade saudável

A literatura infantil e infanto-juvenil, seja a de tradição oral de criação de autor, possui recursos poderosos, pela dimensão simbólica das suas mensagens, que podem ser potenciados no quadro de uma educação ambiental e ecológica das crianças e jovens.

As histórias seleccionadas para o programa sê-lo-ão em função dos seus recursos éticos e estéticos, capazes de ajudar a construir uma mentalidade saudável e construtiva em relação ao ambiente e à natureza, desenvolvendo a consciência ambiental nas novas gerações, enquanto principais actores sociais no futuro, educando-os para respeitar, proteger, viver e sentir o meio ambiente.

Privilegiar-se-ão por isso temáticas que despertem o interesse das crianças na defesa de valores, como: o uso consciente da água, respeito pela fauna e pela flora, biodiversidade, fomento das boas práticas na relação com o meio ambiente, conhecimento e preservação dos habitats animais, segredos da nidificação das aves, conhecimento da onomástica popular e científica das espécies e preservação e defesa da floresta.

 

Pog e os passarinhos

Era um dia igual aos outros. O gato Pog estava sentado, quieto como uma estátua, a ver os passarinhos voar.

— Bom dia! — disse Pog, saudando um dos passarinhos.

Este agitou as asas e aterrou junto dele. Pog olhou-o fixamente: nunca tinha visto um pássaro tão corajoso.

O passarinho começou a cantar. Pog achou que aquela melodia era a mais bela que alguma vez ouvira.

O gato fechou os olhos e pôs-se a escutar, deliciado.

Um a um, foram chegando mais pássaros, que começaram a cantar, por sua vez. Em breve, Pog estava rodeado de música.

E estava feliz.

— Olá! — saudou Peg, um outro gato, chegando junto dele. — Queres brincar?

— Está bem — concordou Pog, sorrindo.

— Podemos caçar ratos — sugeriu Peg.

— Não vi nenhuns — confessou Pog.

— Olha um passarinho! — exclamou Peg.

— Este pássaro canta para mim — contou Pog.

— Vamos caçá-lo! Vai ser divertido — propôs Peg.

Pog pensou um pouco.

— Está bem — assentiu, sorrindo.

E saltaram ambos sobre o pássaro, que guinchou e voou dali.

— Isto é divertido — riu Pog.

— Vamos ver se há mais — sugeriu Peg.

E foram em busca dos pássaros. Perseguiram-nos o dia todo.

— Já não vejo mais nenhuns — queixou-se Peg.

— Devem ser horas de ir para casa — disse Pog.

Na manhã seguinte, Pog estava novamente sentado, à espera de que o passarinho fosse cantar para ele.

— Bom dia! — saudou quando o viu.

A avezinha não lhe prestou atenção.

Chamou todos os pássaros, um a um, mas todos passaram por ele sem lhe prestarem atenção.

Quando Peg chegou, Pog estava muito triste.

— Os pássaros já não vêm ter comigo! — exclamou.

— Claro que vêm! — assegurou Peg.

Tentaram chamá-los juntos, mas nenhum apareceu.

— Não passam de pássaros — desdenhou Peg. — Esquece-os e vem brincar comigo.

— Não, não vou. Adoro pássaros e quero que cantem para mim — disse Pog.

E sentou-se de novo quieto como uma estátua.

O sol nasceu e pôs-se e Pog continuava sentado.

Finalmente, o passarinho veio ter com ele. Pog ficou hirto, sem se atrever a mexer.

— Desculpa — disse ao passarinho. — Nunca mais te assustarei.

A ave começou a cantar. Mas, de repente, Peg saltou sobre ela.

— Assustaste a minha amiga — queixou-se Pog.

— Desculpa — disse Peg.

— Ela tinha vindo cantar para mim.

— Achas que ela também pode cantar para mim? — perguntou Peg.

— Talvez, mas tens de ficar quieto como uma estátua — disse Pog.

Peg tentou.

— A tua cauda está a mexer — sussurrou Pog.

— Desculpa — disse Peg.

Finalmente, o passarinho aproximou-se.

— Não te mexas! — murmurou Pog.

A ave começou a cantar.

— Que som maravilhoso — suspirou Peg.

Aproximaram-se mais alguns pássaros e, em breve, Pog e Peg estavam rodeados de melodias esplêndidas.

— Nunca mais vamos caçar passarinhos — decidiu Pog.

— Nunca — concordou Peg.

— Só caçaremos ratos!

 

Jane Simmons
Pog and the birdies
London, Orchard Books, 2004
Tradução e adaptação

 

Ernesto, o pintor

Buenos dias! Chamo-me Ernesto. Mas, o meu nome artístico é Ernesto, com sotaque espanhol, tipo Picasso! A minha paixão é a pintura. Um dia serei o maior pintor de todos os tempos.

Mas, para isso, tenho que me esforçar bastante. Até trabalho ao domingo! No fim do dia, o chão do meu quarto fica coberto de grandes folhas de papel, pintadas de vermelho, azul e verde, e espalhadas por todo o lado! Também sou muito perfeccionista. Se alguma coisa me desagrada, lixo! Deito fora e recomeço o quadro.

Flora, a minha irmã mais nova, está-me sempre a chatear por causa disso. Desde que o professor lhe disse que o papel vinha das árvores, trata-me como um verdadeiro criminoso.

Diz-me: “És o pior dos irmãos! Por tua causa e daqueles desenhos que nunca acabas, as árvores vão desaparecer da superfície terrestre. Ficas contente, não é? Depois sem oxigénio… asfixiamos!”. É sempre a mesma conversa. Ela é uma exagerada.

No domingo de manhã, a Flora entrou no meu quarto e começou a apanhar todas as folhas de rascunho, espalhadas pela alcatifa. Disse-lhe que se queria arrumar o quarto, por mim tudo bem. Ela adora brincar aos ecologistas!

Nesse dia, a minha irmã desapareceu durante toda a tarde. Eram quase cinco horas, quando me apercebi da agitação na sala de estar: “Oh!”, “Aaah, que giro!”, “Fantástico!”. Estariam todos a apreciar a beleza dos meus quadros, o meu dom artístico?

Foi um choque, quando saí do meu quarto. a Flora tinha feito uma grande árvore, em pasta de papel…

Com os meus rascunhos! Que golpe duro! O grande pintor Ernesto reduzido a um monte de pasta de papel, graça à flora, a ecologista.

Ela sentia-se orgulhosa com a escultura e os meus pais estavam fascinados. Entretanto, Flora olhou-me com um ar irónico e disse: “Obrigada, Ernesto. Se não fosses tu não tinha descoberto o meu dom artístico”.

in: “viver em sociedade – A Ecologia” (2005); Tradução: Ema Rodrigues; Editora: Gaillivro.

Contos Verdes - infantil

Tópico: Contos Verdes - infantil

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